Reminiscências sob a luz do Ebbets Field e do Polo Grounds
setembro 26, 2024 § Deixe um comentário

Possivelmente você não sabe, mas sou um grande fã de baseball. Não sei dizer exatamente quando ou por que essa mania começou, talvez por causa da minha inclinação natural para a estatística, mas aconteceu quando eu ainda era garoto. Joguei durante uma temporada, no meu intercâmbio, como outfielder pelo Flower Mound Jaguars na escola. Foi uma experiência que me fez apreciar ainda mais o esporte e seus detalhes técnicos e estratégicos.
O baseball sempre teve algo que outros esportes coletivos só começaram a perceber ou fazer muito tempo depois. Foi o primeiro a se profissionalizar, criando uma liga nacional já no final do século XIX, o primeiro a usar numeração nas camisas para identificar os jogadores em campo de forma clara, e o pioneiro a realizar transmissões de jogos por rádio, em 1921, o que aproximou milhões de fãs do esporte [7]. Com essas transmissões, veio também o hábito de registrar estatísticas detalhadas — como rebatidas, corridas e erros — e usar esses dados para melhorar o desempenho individual e coletivo [7]. Muito antes de conceitos como “analytics” dominarem o cenário esportivo moderno, o baseball já utilizava análises profundas para tomar decisões estratégicas, como a formação das defesas e o gerenciamento de arremessadores.
Foi também o primeiro a registrar formalmente sua história, inicialmente por meio da imprensa [8], que acompanhava de perto os acontecimentos de cada jogo e a evolução das equipes, e depois por meio de historiadores contratados pelos times [7], que documentavam as trajetórias dos clubes e de seus jogadores, criando uma memória esportiva detalhada e valorizada. Além disso, o esporte foi pioneiro em estabelecer sistemas organizados de desenvolvimento de talentos, como o farm system, no qual times menores servem como base de treinamento e formação para jogadores que podem, eventualmente, integrar as equipes principais [7]. Essa prática, que vemos hoje no futebol brasileiro com donos de clubes adquirindo outros times para criar grupos e movimentar seus jogadores entre diferentes equipes, teve suas raízes no baseball há décadas.
Tendo sua história registrada desde cedo, o esporte da bolinha dura mostrou como um entretenimento consegue se integrar firmemente ao tecido social. No dia 24 de setembro do ano de 1957, o Brooklyn Dodgers jogou sua última partida no histórico Ebbets Field. Quando digo histórico, não é exagero. Muitos eventos memoráveis na evolução do chamado passatempo nacional americano aconteceram por lá [8]. Nenhum tão importante quanto o dia, 10 anos antes, quando Jackie Robinson quebrou a barreira da cor na Major League [1].
Para entender a importância do fato, vale uma pequena explicação. No baseball, há apenas uma liga de primeira linha chamada Major League Baseball (MLB), que é semelhante ao campeonato brasileiro de futebol da primeira divisão, o Brasileirão. Essa liga representa o mais alto nível da competição, onde os melhores jogadores e times jogam. Abaixo da MLB, há as Ligas Menores, que funcionam como divisões de desenvolvimento. É onde jogadores mais jovens ou menos experientes começam suas carreiras profissionais e vão subindo, semelhante a como os times de futebol que possuem times juniores ou então a equipes que “emprestam” seus jogadores para outros times que atuam em campeonatos menores.
Jackie Robinson quebrando a barreira da cor em 1947 foi um acontecimento monumental na história americana porque, na época, a Major League era segregada. Jogadores negros não tinham permissão para competir lá. Quando Robinson se juntou ao Brooklyn Dodgers, ele se tornou o primeiro afro-americano a jogar na MLB, desafiando a segregação racial profundamente arraigada nos esportes profissionais e na sociedade do país [1]. Sua coragem e sucesso abriram portas para outros atletas negros e ajudaram a desencadear conversas sobre igualdade racial nos Estados Unidos, tornando-se um momento-chave no movimento pelos Direitos Civis [8].
Em 1957, Robinson já havia se aposentado, e o dono do Dodgers, Walter O’Malley — junto com seu colega do New York Giants (sim, o homônimo do futebol americano foi criado em homenagem ao original do baseball), Horace Stoneham — decidiram mudar suas equipes de Nova York para a Costa Oeste, levando os Dodgers para Los Angeles e os Giants para San Francisco, marcando o início da expansão do baseball para além da Costa Leste e ganhando uma fortuna no processo.
É difícil imaginar em plena era do esporte 24/7, com seus canais dedicados, lives no YouTube, pay-per-view, etc; o que significou times de baseball abandonando suas origens para pastos mais verdes. Era como se os heróis de milhares de fãs fossem embora para outro mundo [4]. Um componente central da identidade de uma cidade foi arrancado de uma hora para outra.
Esse foi um golpe devastador para Nova York, especialmente para os bairros do Brooklyn e Manhattan, onde essas equipes eram profundamente enraizadas [2] [3]. Para muitos nova-iorquinos, o baseball era mais do que apenas um esporte — era parte da cultura cotidiana e uma fonte de orgulho local [3]. A decisão de mudar as equipes para a Califórnia foi vista como uma traição, gerando uma sensação de abandono e perda irreparável [2]. Os fãs, que haviam crescido acompanhando seus times, sentiram como se tivessem perdido uma conexão emocional com suas comunidades [1]. A violência simbólica dessa partida afetou o tecido social da cidade e deixou um vazio emocional. A sensação de que interesses econômicos tinham mais valor do que o vínculo com a torcida aumentou o sentimento de alienação.
“Lamentamos decepcionar as crianças de Nova York”, disse o dono do Giants em 19 de agosto de 1957, ao confirmar o inominável [3]. “Mas não vimos muitos dos pais deles lá no Polo Grounds nos últimos anos” [3]. Stoneham tinha um argumento válido, do ponto de vista empresarial. Apesar de contar com o grande Willie Mays, os Giants foram os últimos em público na liga em 1956 e 1957 [3].
Mesmo em 1951, o ano do “Shot Heard ‘Round the World”, o público dos Giants foi notavelmente menor do que a média da Major League Baseball na época [5]. Trata-se do home run rebatido por Bobby Thomson contra os Dodgers durante o decisivo Jogo 3 do playoff da National League. O feito de Thomson garantiu o título para os Giants e é considerado um dos momentos mais famosos da história do baseball [8].
Apesar da temporada dramática de 51 dos Giants, coroada exatamente pelo “Shot Heard ‘Round the World”, ter ajudado a aumentar o público no final do ano, os números gerais no Polo Grounds ficaram bem atrás de outros times, como o New York Yankees [3]. Em 1954, o ano em que foram o melhor time de baseball do mundo, a situação se manteve a mesma. Os Giants tiveram uma média de apenas 15.000 torcedores por jogo [3].
Com os Dodgers não foi muito diferente. Apesar de ganhar o campeonato em 1955 e 1956, Brooklyn teve uma média de apenas 14.000 torcedores por jogo, e o time nem sempre conseguia lotar o Ebbets Field, mesmo quando jogava contra Giants e Yankees, seus rivais históricos [2]. Os torcedores dos Dodgers, que carinhosamente chamavam o time de “Bums” (algo como “Pé-rapados” ou “Vagabundos”) [1], sabiam em seus corações o que a deserção dos Giants significava: seu time também iria para o oeste. Pelo menos os Giants fizeram sua despedida direito, com uma cerimônia graciosa no Polo Grounds e alguns dos antigos astros do time presentes [3].
Walter O’Malley proibiu qualquer evento desse tipo, e em 24 de setembro de 1957, apenas 6.700 torcedores se dispuseram a ir até o Ebbets Field pela última vez [2]. Os Dodgers venceram por 2 a 0, em um jogo que pareceu a Duke Snider (o centerfielder da época) como se estivesse sendo jogado a meia luz [1].
Tenho um poster no meu escritório que diz “Life is fun… Baseball is serious!”. A frase engraçadinha traz no seu cerne um racional muito diferente da lógica que prioriza o lucro imediato e a eficiência financeira sobre a lealdade e o compromisso com a comunidade local. A visão empresarial da direção das duas equipes ignorou o impacto social e cultural que esses times tinham em Nova York. Sob essa ótica, a decisão de abandonar a cidade pode parecer racional, mas ela desconsidera o papel dos clubes esportivos como instituições que conectam pessoas e cultivam identidades coletivas, reduzindo o esporte a uma simples mercadoria.
Nos anos seguintes, a Califórnia eclipsaria Nova York de muitas maneiras e Stoneham e O’Malley seriam creditados por sua visão e por iniciar uma tendência mais ampla de expansão para a Costa Oeste em outros campos distintos do esporte. Certamente valeu a pena financeiramente. O Los Angeles Dodgers atrai 3 milhões de fãs anualmente para Chavez Ravine, onde fica o novo estádio do time [6].
A criação do estádio veio acompanhada de um conflito social significativo, conhecido como a “Batalha de Chavez Ravine”. Antes do estádio ser construído, a área era lar de uma comunidade mexicana-americana de baixa renda que foi despejada sob o pretexto de desenvolvimento habitacional público [6]. As promessas de moradias acessíveis nunca se concretizaram, e o terreno foi posteriormente vendido à cidade de Los Angeles para a construção do Dodger Stadium [6].
Esse processo gerou indignação e deixou cicatrizes profundas na comunidade afetada, que viu suas casas destruídas e sua cultura marginalizada. A “Batalha de Chavez Ravine” se tornou um símbolo das lutas de justiça social e dos impactos das decisões urbanas em comunidades vulneráveis, evidenciando as tensões entre interesses corporativos e os direitos dos moradores locais [6].
No final de setembro de 1957, no entanto, havia garotinhos tristes por toda a cidade de Nova York e seus arredores. Garotinhas tristes também, como Doris Kearns Goodwin descreveu em seu maravilhoso livro de memórias, “Wait Til Next Year”. Cinco meses depois que os Bums deixaram o Brooklyn, enquanto os jogadores se reuniam em Vero Beach, na Flórida, para o spring training, como a pré-temporada é conhecida, a mãe de Doris Kearns morreu [4]. Tudo o que seu pai enlutado pôde dizer naquele momento foi: “My pal is gone. My pal is gone” [4] (algo como “minha companheira se foi”). “My pal” também poderia ser traduzido como “meu amigo” e muitos nova-iorquinos se sentiram da mesma forma. Seus amigos – os jogadores de baseball – se foram.
Em julho de 2024 estava de volta a Nova York. Em um domingo quente de verão fui com alguns amigos em um dos campos de baseball do Central Park para uma partidazinha. Jogamos até o sol começar a se pôr, e foi um daqueles dias em que a simplicidade do momento faz você esquecer das preocupações da vida. Mais tarde, ao checar meu celular, recebi a notícia de que meu cachorrinho, Zizou, havia falecido: “my pal is gone”.
Referências
[1] Golenbock, Peter, and Paul Dickson. Bums: An oral history of the Brooklyn Dodgers. Courier Corporation, 2010.
[2] Marzano, Rudy. The Last Years of the Brooklyn Dodgers: A History, 1950-1957. McFarland, 2015.
[3] Hynd, Noel. The Giants of the Polo Grounds: The Glorious Times of Baseball’s New York Giants. Red Cat Tales Publishing LLC, 2019.
[4] Goodwin, Doris Kearns. Wait ‘Til Next Year: A Memoir. Simon & Schuster, 1997.
[5] Tygiel, Jules. The Shot Heard’Round the World: America at Midcentury. Baseball and the American Dream. Routledge, 2016. 170-186.
[6] Shatkin, Elina. The Ugly, Violent Clearing of Chavez Ravine before It Was Home to the Dodgers. LAist, October 17, 2018. Available at: https://laist.com/news/la-history/dodger-stadium-chavez-ravine-battle.
[7] Vecsey, George. Baseball: A history of America’s favorite game. Vol. 25. Modern Library, 2008.
[8] Posnanski, Joe. Why We Love Baseball: A History in 50 Moments. Penguin, 2023.
Leia esse texto também em Update or Die. Publicado em 25/09/2024.
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AI-100: Celebrando uma década de insights em Inteligência Artificial
junho 8, 2024 § Deixe um comentário
Ao fecharmos a primeira década deste estudo centenário AI-100 penso ser um momento oportuno para refletir sobre as percepções significativas e os progressos documentados nos dois relatórios já publicados.

“Em 2014 foi lançado o “Estudo de 100 anos para a Inteligência Artificial”, por uma espécie de consórcio formado por universidades de ponta dos EUA, Canadá e Índia e pelos departamentos de pesquisa de empresas de tecnologia. Para “tocar o trabalho” foram formados um comitê administrativo para cuidar da organização e gerenciamento do estudo (afinal a ideia é que dure pelo menos 100 anos) e um painel de especialistas destinados a analisar o que tem sido feito na área e tentar prever os caminhos e os impactos da Inteligência Artificial no futuro da humanidade.”
Esse foi o primeiro parágrafo do primeiro texto de cinco que escrevi em 2016 comentando sobre o estudo que ficou conhecido como AI-100, sediado na Universidade de Stanford. De lá para cá, escrevi tanto sobre o primeiro relatório quanto sobre o segundo, de 2021 (deixo aqui links para o último texto sobre o relatório de 2016, com link para os demais e do texto de 2022 sobre o relatório do ano anterior).
O projeto foi concebido para antecipar e compreender os impactos a longo prazo da inteligência artificial na sociedade, estabelecendo um precedente para a colaboração interdisciplinar e pesquisa científica, além de manter uma certa visão de futuro que poderia ser resumida pela seguinte pergunta: como a IA pode colaborar com o desenvolvimento humano? Ao fecharmos a primeira década deste estudo centenário, penso ser um momento oportuno para refletir sobre as percepções significativas e os progressos documentados nos dois relatórios já publicados.
O relatório inaugural de 2016 preparou o terreno ao explorar o estado-da-arte da inteligência artificial naquele momento e a sua trajetória potencial ao longo dos próximos cem anos. O relatório foi um exame abrangente das capacidades, limitações e mudanças sociais que ela poderia gerar. Enfatizou o potencial transformador da tecnologia em vários setores, principalmente na educação. Estudos na área estavam sendo concebidos para revolucionar as práticas educativas, oferecendo experiências de aprendizagem personalizadas e sistemas tutoriais inteligentes, que poderiam apoiar professores e alunos de formas sem precedentes. O relatório também abordou alguns conceitos comumente equivocados sobre a inteligência artificial, esclarecendo o que a tecnologia poderia alcançar de forma realista e o que permaneceria no campo especulativo. Este trabalho inicial foi importante para enquadrar a IA não como um conceito futurista distante, mas como uma força imediata e em evolução na vida quotidiana.
Um desses equívocos era a ideia de que a inteligência artificial em breve ultrapassaria a inteligência humana em todos os aspectos. Embora a IA tenha feito progressos impressionantes em áreas específicas como o reconhecimento de padrões e o processamento de dados, o relatório esclareceu que suas capacidades ainda estavam longe de replicar todo o espectro das capacidades cognitivas humanas, como a inteligência emocional, a criatividade e a resolução geral de problemas.
O relatório de 2016 também desmascarou a noção de que esses sistemas tecnológicos são infalíveis e isentos de preconceitos. Destacou casos em que a IA perpetuou preconceitos existentes nos dados de formação, enfatizando a necessidade de testes rigorosos e monitoramento contínuo para garantir justiça e precisão na sua aplicação.
Estes esclarecimentos foram cruciais para mudar a narrativa no sentido de uma compreensão mais realista dos pontos fortes e limitações da inteligência artificial e tiveram um impacto profundo no desenvolvimento da IA generativa, como o ChatGPT, nos anos seguintes. Ao reconhecer suas limitações e abordar conceitos equivocados, as pesquisas sobre o tema foram encorajadas a concentrar-se em avanços específicos e alcançáveis. Essa perspectiva realista impulsionou o desenvolvimento de modelos generativos de IA com uma compreensão clara das suas capacidades e limitações. Por exemplo, a ênfase na compreensão e na mitigação de preconceitos levou à criação de protocolos de desenvolvimento e métodos de avaliação mais robustos, fornecendo ferramentas de avaliação para que modelos, como o ChatGPT, pudessem gerar resultados menos enviesados.
Além disso, o esclarecimento de que a IA não ultrapassaria, no curto e médio prazo, a inteligência humana em todos os aspectos, estimulou o foco no aprimoramento de capacidades específicas onde essa tecnologia poderia se destacar, como a compreensão e geração de linguagem. Isso levou a avanços significativos no processamento de linguagem natural, permitindo a criação de modelos sofisticados capazes de compreender o contexto, gerar texto coerente e envolver-se em conversas significativas (exatamente o que as versões atuais de IA generativa fazem). Ao nos concentrarmos nesses objetivos alcançáveis, foi possível fazer progressos constantes no desenvolvimento da tecnologia que pudessem ajudar e melhorar o resultado de tarefas humanas, ao invés de subistituí-las.
Uma das principais discussões no relatório de 2016 foi o impacto da IA no mercado de trabalho. O relatório reconheceu a sua dupla natureza de influência: por um lado, poderia automatizar tarefas rotineiras, potencialmente deslocando trabalhadores; por outro, poderia criar novas oportunidades de emprego e negócios. Essa visão matizada sublinhou a necessidade de políticas proativas para apoiar as transições da força de trabalho, garantindo que os benefícios da tecnologia fossem amplamente partilhados e que os (as) trabalhadores(as) estivessem preparados(as) com as competências necessárias para uma economia impulsionada pela inteligência, artificial e humana. A abordagem equilibrada do relatório destacou a importância de ver a IA como uma ferramenta para aumentar as capacidades humanas.
Com base no que foi estabelecido pelo relatório anterior, o documento de 2021 forneceu uma análise atualizada dos avanços e desafios emergentes da área. Nessa altura, foram feitos avanços significativos nas tecnologias de inteligência artificial, incluindo aprendizagem profunda, sistemas autônomos e ética (com o surgimento do conceito de alinhamento de IA). O relatório documentou aplicações reais, como diagnósticos de saúde, veículos autônomos e modelagem climática, ilustrando a crescente influência da tecnologia em diversos domínios. Estes avanços não foram meramente teóricos, mas tiveram impactos tangíveis, demonstrando o seu potencial para auxiliar no enfrentamento de alguns dos maiores desafios da sociedade. Por exemplo, ferramentas de diagnóstico alimentadas por IA melhoraram a detecção precoce de doenças e a confecção de planos de tratamento personalizados; pesquisas em veículos autônomos tem focado na melhora da sua segurança e eficiência de direção; e modelos climáticos baseados em IA conseguem fornecer melhores previsões para mudanças ambientais e desastres naturais.
O relatório de 2021 também se aprofundou nos impactos sociais da inteligência artificial, abordando questões como preconceito, privacidade e a necessidade de quadros robustos de governança. À medida que esses sistemas se tornarem mais integrados na vida quotidiana, a importância de garantir que funcionem de forma justa e transparente torna-se cada vez mais evidente. O relatório destacou vários casos em que os sistemas de IA perpetuaram inadvertidamente preconceitos, sublinhando a necessidade de monitoramento e melhoria contínua. Esse foco em considerações éticas foi uma prova da evolução da compreensão do papel deste tipo de ferramenta na sociedade – não apenas como um avanço tecnológico, mas como um sistema sociotécnico que deve ser desenvolvido e implantado de forma responsável.
Um aspecto notável do documento de 2021 foi a inclusão de perspectivas globais sobre o desenvolvimento da IA. Reconhecendo que o tema é um fenômeno global, o relatório enfatizou as diversas abordagens e ambientes regulatórios em diferentes regiões. Apelou à colaboração internacional para enfrentar os desafios globais colocados pelo seu uso, tais como garantir o acesso equitativo à tecnologia e mitigar os riscos associados à sua implantação. Este âmbito alargado foi um lembrete de que os impactos da inteligência artificial não se limitam a um único país ou região, mas são verdadeiramente globais por natureza.
Provavelmente veremos avanços ainda mais rápidos daqui para frente, juntamente com implicações sociais cada vez mais complexas. Questões como governança de IA, considerações éticas e cooperação global se tornarão ainda mais críticas. Os primeiros dez anos do estudo AI-100 forneceram informações valiosas sobre o desenvolvimento e os impactos sociais da inteligência artificial. Desde as suas explorações iniciais publicadas em 2016 até às análises mais detalhadas em 2021, o estudo destacou o potencial transformador da tecnologia, bem como os desafios que devem ser enfrentados para garantir que os seus benefícios sejam amplamente partilhados.
À medida que avançamos para a próxima década, o estudo AI-100 está em uma posição única para fornecer embasamento científico para uma pesquisa rigorosa e interdisciplinar que possa verdadeiramente enfrentar os desafios citados no parágrafo anterior. Ao manter uma abordagem inovadora e ao envolver-se em uma ampla gama de perspectivas, a iniciativa tem tudo para continuar a desempenhar um papel importante na definição do futuro da IA.
Este texto também pode ser lido no LinkedIn e em Update or Die.
You can read the English version, “AI-100: Celebrating a Decade of Insights in Artificial Intelligence”, on Substack or Medium.