Exemplo que vem do passado

junho 27, 2015 § Deixe um comentário

“Verney[1], já no século XVIII, em nome de uma plêiade[2] de sábios educados no estrangeiro, clama contra o atraso do ensino nacional, acadêmico, aéreo, falso. Portugal, cheio de conquistas e glórias, será, no campo do pensamento, o “reino cadaveroso”, o “reino da estupidez”: dedicado à navegação, em nada contribuiu para a ciência náutica; voltado para as minas, não se conhece nenhuma contribuição na lavra e na usinagem dos metais. […] A ciência se fazia para as escolas e para os letrados e não para a nação, para suas necessidades materiais, para sua inexistente indústria, sua decrépita agricultura ou seu comércio de especulação. Uma camada de relevo político e social monopolizava a cultura espiritual, pobre de vida e de agitação. Fora dela, cobertos de insultos, ridicularizados, os reformadores clamavam no deserto, forçados a emigrar para a distante Europa, envolvida em outra luz”.[3]

Qualquer semelhança com o Brasil, século XXI, não é mera coincidência. Como explica o saudoso cientista político, Raymundo Faoro, “O Brasil, de terra a explorar, converte-se em três séculos de assimilação, no herdeiro de uma longa história, em cujo seio pulsa a Revolução de Avis e a corte de dom Manuel”. Depende de nós mudar.

[1] Luís António Verney, filósofo, teólogo, padre, professor e escritor português.  

[2] Grupo de homens ou de literatos famosos.

[3] Faoro, Raymundo. Os donos do poder. Página 82.

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