Avaliação gerando entendimento
setembro 8, 2015 § Deixe um comentário
Quando Grant Wiggins e Jay McTighe escreveram o livro “Understanding by Design” sabiam que o que propunham ia ao contrário do convencional em metodologia educacional. Colocavam a avaliação como peça central de ensino e aprendizagem, argumentando que testes não deveriam ser “adendos” aplicados posteriormente e sim o ponto central da instrução. Quase 20 anos após a publicação da primeira edição, Understanding by Design (UbD) se tornou uma ferramenta amplamente utilizada, com mais de 250 mil exemplares vendidos, 30 mil manuais em uso (há uma versão estilo workbook) e trabalhada como livro-texto em cursos de mais de 150 universidades.
O modelo conta com o que Wiggins e McTighe chamam de “backward design” (algo como “projeto para trás”). Ao invés de se começar a planejar uma ação educacional definindo conteúdo, atividades e material de apoio, como feito tradicionalmente, o modelo UbD propõe que primeiro se identifique metas de aprendizagem e depois se direcione o planejamento para esse objetivo. No “projeto para trás”, o professor começa com os resultados que deseja alcançar em sala de aula e, em seguida, planeja o currículo e escolhe as atividades e materiais que o ajudarão a avaliar a capacidade do aluno e estimular o seu aprendizado.
A abordagem é desenvolvida em 3 etapas. A primeira começa com a identificação dos resultados desejados, o estabelecimento do objetivo geral das lições usando padrões de conteúdo, núcleo comum ou normas definidas por legislação. Esta etapa também se concentra em identificar “o que os alunos já sabem” (conhecimentos atuais) e determinar “o que os alunos serão capazes de fazer” (habilidades que se deseja desenvolver). Há aqui a definição de um documento chamado “Os alunos vão entender que …” (no original, “Students will understand that…”) que enumera questões essenciais que irão orientar a compreensão do aluno a respeito do conteúdo. Pode-se observar que este primeiro momento é dedicado a definições “estratégicas”.
Os objetivos determinados nesta etapa devem ser de 3 tipos: transferência de aprendizagem, criação de entendimento e aquisição de habilidades. Como exemplo, a versão workbook da ferramenta demonstra o objetivo de uma série de matérias. Compartilharei a de história:
- Aplicar lições do passado (padrões históricos) em eventos correntes ou futuros (se for identificada uma tendência).
- Analisar criticamente eventos e reivindicações históricas.
A segunda etapa foca em determinar as evidências do aprendizado por meio de avaliações. É sugerido que se planeje tarefas de desempenho e “provas” de compreensão. Tarefas de desempenho ajudam a avaliar as habilidades que os alunos devem demonstrar e as “provas” atuam como uma forma de evidência, que revela a compreensão do conteúdo. Como “provas”, pode-se incluir a autorreflexão e formas de auto-avaliação.
Mas é preciso ter alguns pontos em mente na hora de definir uma forma de avaliação. Quando alguém realmente compreende algo, pode:
- Explicar princípios, conceitos e processos em suas próprias palavras.
- Interpretar o sentido de dados, textos, imagens, analogias, histórias e modelos.
- Aplicar o que aprendeu, utilizando o conhecimento de maneira efetiva em outro contexto.
- Desenvolver um senso de perspectiva, analisando situações de forma abrangente e por outros pontos de vista.
- Demonstrar empatia e conseguir entender o impacto da situação proposta em outras pessoas ou grupos.
- Desenvolver capacidade de autoconhecimento, demonstrando habilidades de metacognição e refletindo no significado do aprendizado e da experiência.
Finalmente, a terceira etapa foca em planejar as atividades de aprendizado que estimularão os alunos a atingirem os resultados desejados. As atividades devem estar de acordo com os 3 tipos de objetivos definidos na primeira etapa: transferência de aprendizagem, criação de entendimento e aquisição de habilidades. Percebe-se que os 3 objetivos devem ser trabalhados de forma integrada. As atividades que estimulem a transferência de aprendizagem e a criação de entendimento devem necessariamente envolver a demonstração das habilidades que se quer desenvolver. Desta forma, a etapa 2, da avaliação, se torna fundamental para o próprio repasse do conteúdo. É ela que determina o que conta como evidencia do aprendizado e o que o professor quer que o aluno perceba na lição.
A avaliação deveria, cada vez mais, ser vista como um caminho para que se chegue ao domínio de algo (ou como os autores citam, “road to mastery”) e não apenas como testes ou notas.
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