Aprendizado estilo japonês

setembro 22, 2015 § Deixe um comentário

O rugby é uma tradição familiar desde que um dos meus primos mais velhos ajudou a fundar um clube em Niterói dedicado à modalidade. Fui “apresentado” muito novo ao esporte e o pratiquei durante vários anos em clubes e selecionados. Tenho boas lembranças, principalmente dos anos em que joguei pelo Rio Rugby, na época basicamente composto por estrangeiros e uns poucos brasileiros.

Desde que “parei” de jogar, em 2004, minha relação com este esporte se tornou um tanto distante (possivelmente por o ter praticado tanto). Tirando esporádicos jogos familiares de touch (uma versão mais leve da modalidade) e um ou outro jogo assistido, de lá pra cá não dei muita atenção ao que acontecia no “mundo” do rugby.

Faço esta pequena introdução para dar um panorama geral do meu “passado” com a modalidade e para marcar o quão incomum foi, em um início de tarde “preguiçosa” de sábado (o último) parar em frente da TV e assistir despretensiosamente um jogo da Copa do Mundo, que está sendo disputada este mês na Inglaterra. O jogo em questão foi África do Sul Vs Japão, aqui vale uma explicação adicional para os que não estão familiarizados, a seleção sul-africana está para o rugby assim como a seleção brasileira está para o futebol, é uma potência do esporte, duas vezes campeã mundial. O Japão? Bem, está para a modalidade assim como está para o futebol, uma equipe bem mediana.

Contra todas as expectativas, quem ganhou foi o Japão. Aqui vale outra explicação adicional, no rugby não tem muito essa história de “zebra”, dificilmente a melhor equipe deixa de ganhar. Portanto, estava diante de uma situação realmente inusitada. Mas será que era inusitada mesmo?

O técnico japonês é o australiano (a Austrália é outra potência do esporte, também com 2 títulos mundiais) Eddie Jones, que já atuou tanto como jogador quanto como técnico pela sua seleção natal. Jones após se aposentar e antes de iniciar sua carreira de treinador, se tornou professor de escola, chegando a atuar como diretor de colégio. Sabendo da importância do aprendizado contínuo, Eddie Jones também faz parte de um grupo de treinadores de diferentes modalidades, como o espanhol Pep Guardiola, que costumam trocar impressões e melhores práticas a respeito de táticas, em especial posicionamento dos jogadores para “fechar” espaço no campo e tipos de jogadas destinadas a “abrir” o espaço “fechado” pelos jogadores.

Durante a partida foi possível identificar os japoneses praticando jogadas típicas de outras modalidades, como entregar a bola por detrás das costas a um companheiro, muito comum no basquete. Questionado por que nunca havia aplicado esse conhecimento na época em que treinava a Austrália, Jones foi sincero, não o possuía e mesmo que possuísse seria extremamente difícil convencer os jogadores australianos a “toparem” esse tipo de novidade.

Para que a inovação aconteça, além de se “expor” ao máximo a diferentes conhecimentos – para aumentar a possibilidade de conexões inusitadas – também é preciso “estar” em um ambiente que estimule essas conexões inusitadas. O Japão, pelo menos desde a sua reconstrução após a segunda guerra, em que aceitou a ajuda de antigos inimigos para se reerguer, tem-se demonstrado seguidamente “aberto” a novas práticas e conhecimentos. Nos esportes, já aplicaram esta característica nacional ao baseball (o país é uma das potências da modalidade), ao futebol e agora, ao que parece, ao rugby.

Ah sim, o rugby. Ao longo da minha vida, este esporte me apresentou a alguns valores como atuação em equipe, respeito pelas diferenças e pelo compromisso assumido, agora os reforça e os demonstra na prática, com o exemplo japonês, de que não basta ensinar, é preciso também querer aprender.

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