Conselhos para a nova solteira
junho 29, 2016 § Deixe um comentário
Olha só, tem uma nova solteira no pedaço. Bom, pelo menos até saírem os papéis do divórcio. Até lá você, Grã-Bretanha, vai passar pelo processo de indecisão que acomete muitos que já estiveram nesta situação. É possível que hajam tentativas de reconciliação, a Holanda pode começar a enviar tulipas e a Bélgica chocolate. A Grécia pode prometer não deixar mais louça suja na pia e a Alemanha a dividir o controle remoto.
Depois, começa o processo de reaprender a ser solteira. A emoção de não ter ninguém para prestar contas e o desespero nas noites chuvosas. Há, tem também a conta no Tinder para abrir.
Mas, não se desespere Grã-Bretanha, há uns bons partidos “dando mole”. Se você correr, pode se tornar o 51° estado norte-americano. Certamente é mais atraente do que Porto Rico, que apesar de já vir tentando há anos, é repetidamente rejeitado pelo congresso americano. Sei que eles não ligam muito para essas questões geográficas, afinal Hawaii e Alaska conseguiram.
Outro “cara” que eu conheço é o Canadá. Além do inglês, fala francês, de modo que você continuará com alguém que fala mais do que um idioma. Há outras vantagens, você pode deixar a rainha tranquila, afinal eles também são súditos dela. Além do mais, o primeiro ministro deles, o Justin Trudeau é mais bonitão do que o Boris Johnson.
Oriente Médio, não recomendo. Você causou um estrago danado da última vez que passou por lá. O mesmo com a África. Aquele negócio de fronteiras forçadas dá problema até hoje.
Ah, outro país que tem a ver com você, é a Noruega. O clima é parecido, faz frio e chove muito. Tem a Suíça, ela também foi cortejada pela União Europeia e a rejeitou. Nem quis entrar. Pensando bem, melhor não. É muito pequena.
Bom, não quero te deixar tensa, mas outro dia assisti a um filme com a Anna Farris chamado “Qual o seu número?”. A história é sobre uma moça que lê um artigo que diz que as mulheres que tiveram mais de um determinado número de parceiros, têm dificuldade em encontrar um marido. Ela coloca na cabeça de que a solução para o seu problema é tentar se reconectar com ex-namorados.
De repente, o Canadá é a solução mesmo. Joga no Google, eles estão com um programa para estimular a imigração bem bacana. Ih, esqueci que foi por isso que você se separou. Sorry.
O caso Gawker e a democracia
junho 1, 2016 § Deixe um comentário
Gawker é um site de fofocas, cujo slogan maroto é “a fofoca de hoje é a notícia de amanhã”. Seus posts, focados em celebridades e poderosos de todas matizes, provocam tanto indignação quanto tráfego ao site. Em 2012 publicou trechos de um vídeo sexual envolvendo o ex-lutador Hulk Hogan. O ex-lutador, indignado, processou o site por invasão de privacidade, ganhou a causa e o direito de receber cerca de US$ 140 milhões por danos à imagem. O criador do Gawker, Nick Denton, alega que a condenação os levará à falência e insiste no seu direito de publicar fatos que considera relevantes e de interesse jornalístico para a sociedade.
Peter Thiel é um dos fundadores do PayPal e um dos primeiros investidores do Facebook (faz parte do board da rede social). Em 2007, o mesmo Gawker publicou um pequeno post com o título “Peter Thiel é totalmente gay, pessoal”, causando furor e indignação de boa parte da comunidade tech e em especial do próprio Peter Thiel, que se sentiu extremamente ofendido. Em maio de 2016, descobriu-se que Peter Thiel contribuiu com US$ 10 milhões para as custas do processo de Hulk Hogan contra o Gawker.
O que o site fez com Hogan e Thiel foi deprimente, mas é preciso olhar a situação em perspectiva. Apesar de ser uma nova mídia, o Gawker é herdeiro direto da crença surgida no século XVIII de que o direito do público à informação é superior ao direito individual à privacidade. Também é herdeiro da prática democrática de causar desconforto aos poderosos – merecendo eles ou não o desconforto – como forma de atenuar e balancear o poder. Devemos lembrar que esta prática surgiu em decorrência das revoluções que destruíram o absolutismo, que por sua vez mostrou à humanidade que o poder absoluto corrompe de maneira absoluta. Foi esta crença também que criou o conceito moderno de democracia e o sistema de freios e contrapesos, que é um dos sustentáculos do Estado democrático de direito.
Muita gente boa acha que o Gawker tem mais é que acabar mesmo – como mostra este debate no twitter – inclusive o próprio Peter Thiel, que classifica sua ajuda às custas do processo como um caso de filantropia. Apesar de admirar o Thiel e em especial o seu ensaio publicado em 2009, sob o título “The Education of a Libertarian”, não posso relevar que neste mesmo texto ele declarou “eu não acredito mais que liberdade e democracia sejam compatíveis”.
Muita gente boa também “esquece” que o Gawker foi um dos primeiros veículos de comunicação a publicar posts a respeito da conta secreta de e-mail da Hillary Clinton, dos abusos sexuais praticados pelo humorista Bill Cosby e da contribuição de Hollywood ao fortalecimento dos abusos a mulheres, antes mesmo da “grande mídia” se interessar pelos assuntos.
A democracia moderna é um processo que ganhou impulso a coisa de 300 anos, é muito recente na história da humanidade (para uma visão geral da história da democracia, cheque este link). O significado de uma “imprensa livre” vai além de titãs como The New York Times, abarca todo tipo de publicação, inclusive tabloides e sites como o Gawker.
Estes últimos, causam tanto desconforto nos ditos mais esclarecidos porque refletem a sociedade em que vivemos do triunfo da cultura da celebridade e da imagem em detrimento do conteúdo. O filósofo René Girard, que desenvolveu de maneira mais extensa o conceito do “mecanismo do bode expiatório”, mostra o quão facilmente atribuímos a uma única pessoa (ou instituição) a causa de todos os nossos problemas (que na maioria das vezes são frutos das nossas próprias falhas). O Gawker foi transformado no “bode expiatório” da vez, mas seu desaparecimento por este motivo (e não pela sua falta de qualidade) causaria um mal irreparável à percepção atual em relação à democracia: a de que é aceitável calar vozes que nos incomodam.
A “desculpa” da política
abril 27, 2016 § 2 Comentários

People raising their hands
Há tempos tomei a decisão de não discutir política – que cá entre nós, me fez um enorme bem. Um pouco por perceber a política cada vez mais parecida com futebol e religião, dogmática. Cada um no seu lado e o resto adversário. Como não pretendo discutir política, apenas compartilhar impressões, me reservo o espaço para tal.
Percebo nos tempos atuais um comportamento político irresoluto. Frequentemente, disputas políticas não geram conclusões aceitáveis ou concordância relutante. Geram apenas acusações de roubo, rótulos de ilegitimidade e uma determinação em neutralizar o vitorioso, anular resultados ou revertê-los o mais rápido possível. Aconteceu nas eleições de 2014 e aconteceu agora, no processo de impeachment. Não é privilégio de nenhuma corrente política, mas um comportamento geral, compartilhado por todos.
A bem da verdade é que não é nem um “privilégio” brasileiro, acontece o mesmo comportamento em várias partes do mundo. É possível observá-lo, em todo seu “esplendor”, nas primárias americanas, onde os líderes do partido republicano insistem em tentar barrar a indicação de Donald Trump, mesmo sendo ele o favorito da maioria dos eleitores do partido e mesmo sem oferecerem um substituto viável – todos os demais concorrentes tem uma rejeição dos filiados maior do que a dele. O mesmo ocorre no partido democrata, em que os apoiadores do candidato Bernie Sanders insistem em dizer que a adversária, Hillary Clinton, frauda os resultados. Mesmo com ela sendo apoiada pela maioria dos eleitores do partido, com exceção de universitários brancos e artistas de hollywood.
Voltando à terra brasilis, eleições não “encerram” disputas porque há uma crença perniciosa de que elas não são um referendo do estado de espírito do povo e sim um intricado jogo de tabuleiro, com peças marcadas. Talvez pelo nosso passado autocrata, talvez pela falta de confiança crônica entre os brasileiros, mas a verdade é que se alguém considera que foi “passado para trás” ao invés de ter “perdido no voto”, qual o motivo para declarar trégua ou cooperar futuramente?
O processo democrático nunca foi suave e as derrotas raramente aceitas de maneira dócil. Frank Bruni, jornalista americano, conta que o ex-presidente Teddy Roosevelt criou em 1912 o partido progressivo apenas porque os republicanos indicaram o também ex-presidente William Howard Taft como candidato ao invés dele. Portanto, é natural um político não aceitar uma derrota. O que não é comum é a mesma atitude ser tomada pela maioria dos eleitores e mais incomum ainda, é o esforço coletivo em deslegitimar os vencedores – sejam eles quem forem.
Esta atitude diz muito a respeito da nossa sociedade: a grosseria do nosso discurso, o tribalismo cego dos nossos “debates”, a elevação do individualismo muito acima do propósito coletivo e o ethos de que todos são por direito de nascença vencedores na competição da vida (e não por conquista pessoal).
Esta forma de pensar leva seguidamente aos pedidos de “reforma política”, mais como uma “desculpa” para justificar o comportamento do que uma vontade genuína de melhorar o processo. Mudança verdadeira é muito diferente de rejeitar resultados desagradáveis. Se as mágoas nunca forem postas de lado, o processo democrático não tem chance. Se tudo for fraude, então como no amor e na guerra, tudo é válido. E nós, continuaremos a ter anos à frente de inércia e inépcia, seja quem for que esteja no poder. O Brasil é e será o que os brasileiros quiserem fazer dele. O quanto antes tomemos consciência deste fato, melhor para o país.
Brasil Vs Resto do Mundo
março 28, 2015 § Deixe um comentário
Lembro da minha época de colégio (e lá se vão algumas décadas) que o Brasil era considerado um país subdesenvolvido (ouvi isso centenas de vezes). Apesar de ainda nos faltar muito, me surpreendo sempre com comparativos com outros países.
O último que vi foi a respeito de PPP (purchasing power parity), algo como poder de paridade de compra, divulgado pela (pasmem) CIA no seu “The World Factbook”, que é um almanaque preparado para o uso do governo americano. Em comparação com países mais desenvolvidos (ricos, em outras palavras), um país subdesenvolvido, como por exemplo a Etiópia, tem um gap de 60 para 1 (algo como poder de compra de 1/60 em relação a um país desenvolvido). Um país em desenvolvimento médio, como a Nicarágua tem um gap de 15 para 1. O Brasil, considerado em desenvolvimento avançado (alguns especialistas mais otimistas nos consideram desenvolvidos já) possui um gap de 4 para 1. Isso quer dizer que o brasileiro tem um poder de compra relativo a 1/4 de um suíço, por exemplo.
Se resolvermos esses problemas de falta de caráter institucional que temos, de repente há chance.
Quem tiver interesse: https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/
Colaboração online?
março 5, 2015 § Deixe um comentário
A colaboração online é definida como um modelo de trabalho em equipe onde grandes grupos de pessoas trabalham de maneira independente em um mesmo projeto. Com base nessa definição, alguns consideram a campanha na rede em favor da candidatura da senadora Elizabeth Warren à presidência dos EUA, o exemplo mais atual. A senadora do estado de Massachusetts não é lá muito conhecida aqui no Brasil (e pelo que pude apurar, nem nos Estados Unidos), mas tem conseguido angariar muito apoio de artistas e descolados nova iorquinos, tanto que já começa a fazer barulho e ser seriamente considerada como concorrente à indicação democrata.
Ela tem a seu favor dezenas de blogs e páginas na internet de correlegionários e voluntários, além de notícias “espontâneas” em diversos telejornais e revistas. Uma recente edição da revista New Yorker trouxe um artigo a respeito de uma reunião promovida no apartamento da filha do Al Pacino, com a presença de artistas e vídeo de apoio do ator Mark Ruffalo (é inegável o impacto que formadores de opinião têm nesses casos).
De qualquer forma, o bochicho tem crescido sem que se fale muito a respeito das ideias políticas da senadora, que garantem, é uma defensora dos direitos das mulheres. Segundo o artigo que citei, Julie Pacino ligou o som, dando início à festa/convenção no seu apartamento, quando algum impertinente quis conhecer a posição da senadora em relação à Palestina. Aparentemente o debate político norte-americano tem similaridades com o brasileiro, pelo menos no quesito tergiversação.
Governança corporativa
março 1, 2015 § Deixe um comentário
Nesses tempos de petrolão e outros escândalos, a governança corporativa adquire um sentido mais tangível. Segue um texto relevante sobre o assunto. Vale a reflexão.