Mundo acadêmico e corporativo
julho 30, 2015 § 2 Comentários
Esta semana tive a oportunidade de participar de um workshop no instituto de ciências políticas da UERJ. Como de costume, as discussões e debates do evento foram de alto nível, mas (também como de costume) o que aconteceu fora da “sala”, nas conversas do cafezinho, almoço e confraternizações me chamaram tanto a atenção quanto o evento em si.
Como um proveniente do mundo corporativo, fui solicitado por alguns dos participantes a compartilhar minhas impressões a respeito do mundo acadêmico e seu impacto na comunidade dos negócios. Sendo o mais diplomático possível, disse identificar uma falta de interesse mútuo entre a academia e os negócios no Brasil. Tirando algumas iniciativas em relação à suporte em consultoria e ações como incubadoras de empresas, não via uma parceria muito abrangente.
O “papo” evoluiu para um “exercício” de propostas destinadas a estimular um diálogo entre dois mundos que não conversam tanto quanto poderiam. Duas delas me pareceram bem razoáveis por serem, na minha opinião, implementáveis em curto prazo.
Parceria em pesquisa
São formadas quando empresa e universidade concordam em colaborar em um determinado projeto de pesquisa. É muito comum em áreas como a farmacologia. Geralmente são conduzidas por pesquisadores mais graduados de instituições acadêmicas e financiadas por empresas, que viram sócias da propriedade intelectual desenvolvida. Propus fazer algo semelhante, mas envolvendo estudantes não tão graduados, que poderiam ter a oportunidade de realizar pesquisas para uma empresa via academia. Meu argumento girou em torno de um ponto: ao demonstrar suas habilidades aplicadas em um negócio, um estudante aumenta a sua “empregabilidade”. Não é um estágio, a pessoa atua pela universidade, mas em contato direto com uma empresa.
Parcerias de formação
É a criação (ou direcionamento) de cursos baseados em necessidades específicas das empresas. Meu exemplo se baseou na experiência de parceria entre empresas de TI e instituições acadêmicas que oferecem o nanodegree. O benefício deste tipo de programa para os estudantes é uma formação focada na implementação prática do conhecimento (além da possibilidade de contratação) e, para as empresas, ter indivíduos especialmente formados. Como potenciais desafios foram levantados dois pontos: (1) uma formação que só pode ser aplicada ao negócio específico e (2) a empresa exigir uma cláusula de “não concorrência” para os estudantes. Pontos que, ao meu ver, são passíveis de negociação entre as partes e não incapacitam a iniciativa.
Fui muito bem recebido, conheci pessoas interessantes nessa experiência e tive a oportunidade de trocar ideias com elas. Fiquei muito satisfeito também em conhecer iniciativas da academia brasileira para facilitar a geração de propriedade intelectual e o esforço que acadêmicos brasileiros e estrangeiros, como os professores alemães Wolfgang Merkel, que se juntará ano que vem à equipe da UERJ e a professora Brigitte Weiffen, que já faz parte do corpo docente da USP, fazem neste sentido. São duas mentes inquietas que conseguimos trazer ao nosso convívio. O país certamente se beneficiará disto no futuro.
Futebol Universitário
julho 28, 2015 § Deixe um comentário
Alguém já imaginou uma tarde de sábado, Maracanã lotado (ou Minerão, Morumbi, Fonte Nova, etc.), para assistir uma final largamente antecipada pela crônica esportiva nacional durante a semana entre… USP e UERJ?
É possível que realmente nunca tenha passado pela sua cabeça uma “sandice” dessas, mas esta é uma realidade centenária em países como EUA, Canada e Reino Unido. Nestes lugares, a formação de um atleta profissional ocorre via instituições acadêmicas e não clubes esportivos. Há prós e contras (como em tudo na vida) em um modelo como este, mas com o nível em que chegou o “grande esporte nacional”, penso que é um bom momento para contestar as “verdades absolutas” e o modelo atual de formação de atletas.
Se em um primeiro momento esse assunto pode parecer um contrassenso em um espaço como este, a coisa muda de figura quando colocada na perspectiva correta. A indústria esportiva deve gerar um faturamento por volta de US$145 bilhões em 2015 (segundo o portal Statista, cujos algoritmos analisam mais de 18 mil fontes de dados). Isto a coloca ao lado de indústrias gigantes como a bélica, petróleo e gás, tecnologia e automobilística. Discutir o modelo de formação do atleta profissional não é um luxo do entretenimento, impacta diretamente na nossa participação em um dos maiores negócios do mundo (o que em tempos de crise, faz toda a diferença).
Para começar, vamos entender como funciona o modelo esportivo universitário. Existem 2 tipos de “programas” (que é a maneira como chamam nos países citados a implementação do modelo dentro de uma instituição), ambos amadores: “Varsity”, que são as modalidades esportivas oferecidas para prática dos alunos e membros da comunidade em que a instituição acadêmica se encontra (muito popular no Reino Unido) e “College”, que são as modalidades esportivas que oferecem bolsas de estudo aos seus participantes, como incentivo para que o atleta tenha um nível de dedicação, digamos, mais comprometido. A grande maioria dos atletas profissionais norte-americanos, por exemplo, veem do “College”.
Os programas esportivos universitários, em especial os do tipo “college”, estimulam o envolvimento da comunidade com a instituição acadêmica. O que começa como entretenimento esportivo evolui para interesse pelo conhecimento que a instituição produz, pela qualidade do seu corpo docente e do seu ensino, pelo sucesso (acadêmico e profissional) de seus alunos e ex-alunos, além de orgulho em fazer parte da história da instituição – uma das grandes fontes de receitas das universidades americanas, canadenses e inglesas veem das doações dos seus “aluminis” (ex-alunos). Não é raro que as provocações entre os torcedores de universidades rivais incluam número de prêmios Nobel e medalhas olímpicas conquistadas pela instituição.
Como se implementa este modelo? Como citei acima, já vem ocorrendo há séculos, portanto certamente não é possível replicar “ipsis litteris”, mas o pontapé inicial comum foi dado pelas próprias instituições, que combinavam entre si os eventos esportivos. É famoso o caso da criação do termo “soccer” para ilustrar os primeiros passos dos esportes universitários, cunhado pelo capitão da equipe de Oxford que para ridicularizar a preferência de outra instituição pelo tipo de futebol escolhido (o football association ao invés do rugby football) disse “aqui em Oxford não somos soccer (fazendo uma corruptela da palavra association), somos rugbier”.
Não nego que o modo de pensar da sociedade tenha influência na escolha e implementação do modelo esportivo – não é à toa que os países onde os esportes universitários se desenvolveram também sejam países que dão muita importância para a geração de conhecimento e propriedade intelectual. Também não nego que seja mais difícil esse modelo “pegar” aqui no Brasil – já que a grande paixão esportiva dos brasileiros é direcionada à clubes esportivos e não instituições acadêmicas. Mas penso que vale a pena olhar “com mais carinho” para a situação do nosso futebol e o nosso modelo escolhido para a formação de atletas.
Proponho a seguinte reflexão: o que seria mais saudável aos “nossos meninos”? Sair aos 15 ou 16 anos para o exterior, simplesmente para “fazer a fortuna” de algum dirigente ou empresário esportivo (muitas vezes abandonado à própria sorte quando não corresponde à aposta) ou estrear profissionalmente em um clube aos 22 ou 23 anos, mas com um diploma universitário no bolso e uma certa maturidade para conduzir a sua carreira? Para mim, não é necessária “segunda chamada”, a resposta é clara.
O valor da engenhosidade
julho 23, 2015 § Deixe um comentário
Engenhosidade é um substantivo feminino que significa basicamente ter a capacidade de encontrar maneiras rápidas e inteligentes para superar as dificuldades. Com todas as facilidades da vida moderna (do supermercado ao Google), esta é uma habilidade em que é preciso ter insistência para desenvolver – mesmo porque, em um primeiro momento parece (apenas parece) desnecessária para nossa sobrevivência.
Em plena “era da conveniência”, para estimular a sua engenhosidade é preciso estar disposto a “receber de braços abertos” a inconveniência. Apenas desafiando nossas próprias ideias (e a dos outros), abraçando obstáculos e conflitos e reconhecendo o valor do desconforto, poderemos estimular a capacidade de “pensar diferente” e escolher a criatividade ao invés do conforto.
Uma das melhores maneiras para estimular a engenhosidade é colocar a “mão na massa” e fazer algo que nunca fez. Por exemplo, quem não tem intimidade com a cozinha deveria se voluntariar a preparar o jantar da família. Algumas instituições educacionais já perceberam a importância de estimular esta habilidade desde cedo e têm pensado em soluções para colocar o assunto em pauta. Um exemplo é o Kitchen Garden Program, que em mais de 800 escolas na Austrália já colocou 100 mil estudantes para “sujar as mãos” e aprender a cultivar, preparar e compartilhar comida “fresca e saudável”. Para um “jardineiro inconstante” como eu (que digam minhas plantas) é um exemplo e tanto.
Um dos grandes aliados da engenhosidade pode ser resumido em uma palavrinha inglesa chamada “grit” (com toda sinceridade não sei como traduzi-la em um similar português), que como substantivo assume o significado de coragem, perseverança ou força de caráter. Desenvolver esta característica nos deixa conscientes de que vamos enfrentar contratempos durante nossa caminhada e que não há nada de errado em “dar um passo atrás, para dar dois à frente”. Frustação é um dos grandes destruidores da engenhosidade. Há um texto interessante escrito pela psicóloga Julie DeNeen a respeito de como promover “grit”. É focado para a “sala de aula”, mas é possível fazer a correlação para aplicar no nosso próprio desenvolvimento.
Outro aliado é o pensamento crítico. Um “espírito” crítico tem mais possibilidade de gravitar em torno da engenhosidade do que uma mente que não faz perguntas. Desenvolva o hábito de pensar de forma ampla.
Para fechar, concentrar-se no propósito ao invés da tarefa é mais um aliado na sua busca pela engenhosidade. Seu benefício está em colocar a tarefa em um “quadro maior”, que além de permitir pensar de forma mais ampla, permite pensar com mais profundidade nas possibilidades que o propósito traz.
Engajamento para o aprendizado – parte 2
julho 21, 2015 § 2 Comentários
Segundo os pesquisadores Ming-Te Wang (Universidade de Pittsburgh) e Jacquelynne S. Eccles (Universidade de Michigan), historicamente costuma-se levar somente em consideração o comportamento dos alunos para medir o seu envolvimento. Eles acreditam que esta abordagem “não conta toda a história” e que é preciso incluir “na conta” a emoção e a cognição.
Os dois publicaram em 2013 um estudo que está entre as primeiras tentativas de se levantar dados que permitam explorar uma abordagem multidimensional do impacto do engajamento para o aprendizado. Uma das descobertas mostrou que os estudantes que consideravam os temas estudados relevantes e as atividades propostas significativas e correlacionadas aos seus objetivos, eram mais emocionalmente e cognitivamente engajados do que aqueles que, embora bem-comportados, não se interessavam tanto pelo que estavam estudando.
Wang e Eccles também descobriram que o ambiente educacional pode ajudar ou prejudicar o engajamento e tem um impacto maior do que a própria infraestrutura do local. Segundo eles, um ambiente positivo, que apoie o aprendizado, além de oferecer oportunidades para os alunos fazerem as suas próprias escolhas, deve proporcionar o suporte necessário para que os alunos saibam o que fazer e o que esperar do seu aprendizado.
Dependendo do nível acadêmico do aluno e do tipo de engajamento envolvido (comportamental, cognitivo ou emocional), a estratégia instrucional muda. Por exemplo, para aumentar o engajamento comportamental, reforçar as relações professor-aluno é mais eficaz do que aumentar o nível das tarefas acadêmicas. Para estimular o engajamento cognitivo, incluir temas que reflitam os objetivos e interesses pessoais dos estudantes tem mais impacto do que mudar o método educacional.
O uso de uma perspectiva multidimensional do engajamento permite que se tenha uma melhor compreensão do que fazer em um determinado contexto educacional. Em geral, o estudo identificou cinco principais fatores que contribuem para o envolvimento dos alunos: (1) clareza da expectativa, (2) coerência de atitude, (3) previsibilidade de reação, (4) apoio emocional e (5) apoio aos objetivos e interesses pessoais dos estudantes.
Um fator que se esperava que tivesse um impacto maior no engajamento, mas não o fez, foi a liberdade de escolha. No entanto, ela não deve ser menosprezada se quisermos estimular a habilidade de autoaprendizado, importante para o desenvolvimento posterior.
Veja como os fatores atuam de acordo com o tipo de engajamento:
Engajamento Comportamental: quando os professores são claros a respeito das suas expectativas, fornecem respostas consistentes e ajustam as estratégias de ensino ao nível do aluno, fornecem a estrutura que dá suporte a uma maior participação em tarefas acadêmicas (engajamento comportamental) e fomentam um sentimento mais forte de ligação à escola (engajamento emocional).
Engajamento Emocional: quando professores e alunos “criam” um ambiente de carinho e de apoio social, aumentam a propensão de engajamento emocional (e de quebra, comportamental). Os resultados do estudo Wang- Eccles adicionam evidência de que as percepções dos alunos sobre a natureza e a qualidade do ambiente social da escola são tão importantes quanto o ambiente acadêmico em si (tarefas acadêmicas e práticas de ensino) na promoção do envolvimento para o aprendizado.
Engajamento Cognitivo: o fator que o estudo mostrou que mais contribuiu para o engajamento cognitivo (a atenção dada ao aprendizado) foi a percepção da relevância do assunto em relação aos objetivos e interesses pessoais dos alunos. A motivação acadêmica flutuava com base em quão agradável eles achavam que uma tarefa seria, o quão útil entendiam que ela seria para o cumprimento de metas de curto e longo prazo e como percebiam que ela poderia atender às necessidades pessoais de cada um. De acordo com o estudo, a relevância também impacta no engajamento comportamental e emocional, mas em um grau muito menor.
Quem se interessar mais, pode adquirir o artigo científico na página do Science Direct, que é um dos databases científicos mais acessados do mundo.
Engajamento para o aprendizado – parte 1
julho 16, 2015 § Deixe um comentário
Tenho notado uma crescente preocupação com o engajamento para o aprendizado, como pode-se comprovar pelas publicações do relatório do plano de ação da CEA (Canadian Education Association) e pelas pesquisas a respeito do clima escolar conduzida pela PUC-RS e do engajamento para o aprendizado feita pela ESPM-RJ.
Esta preocupação, ao meu ver, deriva em grande parte das observações de educadores sobre os efeitos da tecnologia no nível de interesse dos alunos. Muitos jovens – principalmente em países mais avançados, embora o mesmo comportamento possa também ser observado por aqui – têm-se “desconectado” do aprendizado tradicional e se “conectado” em seus smartphones. A tecnologia fornece um meio mais rápido e variado para a transferência de informações do que um professor e por isso, penso eu, os alunos estão se desinteressando cada vez mais pelos meios tradicionais de instrução.
O objetivo atual das pesquisas (e em alguns locais, das campanhas) de engajamento dos alunos é corrigir esta discrepância. Currículos escolares em diferentes locais do mundo estão apostando na abordagem blended learning (método que engloba ações educacionais presenciais e não presenciais) na esperança de “dar um gás” no envolvimento dos alunos.
No entanto, é preciso ter em mente que nem todo engajamento é criado da mesma forma e que levar em consideração as próprias expectativas de quem aprende é tão (ou mais) importante do que os métodos usados para gerar os 3 tipos de engajamento (emocional, comportamental e cognitivo).
Inspirada nestas questões, a já citada Associação Canadense de Educação (Canadian Education Association) criou um projeto chamado “O que você fez hoje na escola?” (no original, “What did you do in school today?”), em que pergunta aos próprios estudantes, dentre outros assuntos, como imaginam o ambiente ideal para a sua aprendizagem. Abaixo, uma compilação das expectativas:
- Resolver problemas reais
- Ter contato com conhecimentos realmente importantes
- Me preparar para fazer a diferença no mundo
- Ser respeitado
- Entender como os temas estão interligados
- Aprender em conjunto com os outros e com as pessoas da comunidade
- Estar em contato com especialistas e conhecer suas opiniões
- Ter mais oportunidades para dialogar e conversar
É claro que há diferenças entre as realidades canadense e brasileira, mas com o mundo tão conectado como o atual e com cada vez mais possibilidades de compartilhar interesses, pensamentos e experiências, é válido inferir que algumas expectativas também são compartilhadas por pessoas de origens diferentes. Desta forma, o compilado de expectativa dos estudantes canadenses pode ser levado em consideração (comparativamente) e adaptado ao Brasil. Certamente nossos estudantes também se beneficiariam de um ambiente educacional que atendesse ao menos algumas das expectativas.
No próximo post pretendo tratar um pouco mais da abordagem multidimensional do engajamento (os 3 tipos que citei mais acima).
Sandow Birk e a fisiologia
julho 14, 2015 § Deixe um comentário
Sandow Birk é um artista plástico norte-americano com uma visão muito particular da cultura contemporânea. Ficou famoso o seu trabalho em que retrata o mapa-mundi visto por um liberal (aqui no Brasil chamaríamos de esquerda) e por um conservador (aqui, direita) com todas as suas idiossincrasias.
Porém, o seu trabalho que mais gosto é o que aborda a fisiologia, com “sacadas” como “velha lesão de futebol” para sinalizar o joelho ou “sobremesa” para aquela gordurinha localizada, como podem checar aqui abaixo.
O que acho interessante nesta abordagem é o estímulo à compreensão do funcionamento do corpo humano por meio de correlações com a vida cotidiana. É claro que não substitui o conteúdo clássico da biologia, é apenas um modo de introduzir um assunto mais denso de forma bem-humorada e motivar o aprendizado. Além de ser uma boa maneira para solidificar o conteúdo na memória de longo-prazo (correlacionando-o com “gatilhos” que facilitem rememorá-lo).
Gosto de dizer que não existe “cultura inútil”, é preciso se permitir estar em contato com a maior quantidade possível de fontes de informação para aumentar as suas possibilidades de conectar um conhecimento e, de quebra, inovar.
Quem se interessar em conhecer mais a respeito do trabalho do Birk, pode acessar o seu site diretamente por AQUI.
EatWith
julho 11, 2015 § Deixe um comentário
É mais um exemplo das possibilidades que a conectividade traz ao dia a dia. O EatWith, considerado o Airbnb (o site de alugueis por temporada) da gastronomia, é um site (disponível em app também) que oferece aos participantes a possibilidade de se conhecerem frequentando jantares oferecidos por outros participantes, ou como o site coloca “desfrutar experiências gastronômicas autênticas e íntimas nas casas das pessoas”. A ideia é fomentar uma comunidade global em torno da rede social original: pessoas ao redor da mesa.
Vem sendo bastante usada por chefs que oferecem jantares exclusivos em seus estabelecimentos ou residências, mas também por pessoas que compartilham o interesse por um bom papo e uma boa mesa. É uma boa maneira de conectar pessoas e este é o primeiro passo para se fazer outra conexão importante, a do conhecimento.
Crítica é boa para inovação?
julho 9, 2015 § 1 comentário
Jonathan Bendor, professor da Universidade de Stanford acredita que sim. Para ele, o que falta na maioria dos locais de trabalho não é criatividade, mas sim visão crítica. Muitos acreditam que a crítica e a criatividade são incompatíveis em um ambiente de trabalho criativo (vide as recomendações de técnicas como brainstorming), mas como Bendor vê a situação, criatividade e crítica são como os princípios chineses do yin e yang: duas forças complementares que interagem para formar um todo maior. “Eu acho que não só elas podem viver juntas”, diz ele, “como têm de viver juntas.”
Apesar de gostar de causar desconforto com suas observações – como podem checar pelo infográfico que seus alunos fizeram dos seus conceitos (pérolas como “a maioria das ideias são ruins” ou “leia e escreva usando as dicas “Strunk & White”[1]) – algumas delas são realmente válidas, como a referente ao uso de rubricas como forma de feedback.
Explico melhor, uma maneira de dar aos funcionários (ou colaboradores na linguagem atual) um feedback útil é através de uma rubrica formal ou sistema de pontuação, onde suas ideias são classificadas em várias dimensões, tais como “mérito técnico” e “potencial de mercado”. Ao contrário de uma crítica global como “Isso não é bom!”, as rubricas podem ajudar a solucionar problemas ao darem mais parâmetros para a avaliação de uma ideia e indicarem como ela pode ser melhorada.
“Se uma ideia é corrigível”, diz Bendor, “um gerente pode apontar para a rubrica e dizer: esta parte da solução está OK. Esta parte precisa ser retrabalhada e esta parte, refeita totalmente”. Ele acrescenta que pessoas em todos os níveis de uma organização podem se beneficiar de um feedback despersonalizado como este – mesmo o CEO.
Quem quiser ouvi-lo falar, pode acessar ao vídeo disponibilizado por Stanford. São 12 minutinhos que vale a pena “gastar”.
[1] William Strunk, Jr. publicou em 1919 um manual de escrita, revisado e atualizado em 1959 pelo seu ex-aluno E.B. White, chamado “The Elements of Style” em que dá dicas para escrever um texto corretamente. Quem já teve oportunidade de frequentar alguma aula de literatura em uma High School americana deve ter recebido o livrinho, que é odiado pela maioria dos estudantes.
Big data & Wide data
julho 7, 2015 § Deixe um comentário
Não é de hoje que precisamos nos relacionar com uma quantidade absurda de dados e informações. O mundo conectado online (sou um rebelde, não concordo com opção portuguesa e espanhola pela grafia on-line, que não tem o mesmo significado que online em inglês) potencializou exponencialmente o volume – daí o termo big data – que só algoritmos “lidos” por máquinas conseguem lidar.
Somado ao volume, temos também a amplitude desses dados e informações – daí o termo wide data – que requer uma certa criticidade para analisar. É da amplitude que vêm as previsões e conclusões e, há até pouco tempo, domínio total do cérebro humano. Bom, não usei o termo “exponencial” à toa. O volume alongou a amplitude disponível a tal ponto que o cérebro humano simplesmente não processa as variáveis disponíveis. A solução para a “dobradinha” big & wide data são as ferramentas que promovem “machine learning”, uma espécie de inteligência artificial, que permite máquinas aperfeiçoarem o seu desempenho em alguma tarefa, em outras palavras, aprender.
Como todo o processo de aprendizado das máquinas é baseado no próprio processo humano de aprendizagem (pelo menos até que alguma “revolta das máquinas” aconteça), adaptar um ao outro pode ajudar os 2 lados. 3 conceitos usados em “machine learning” me chamaram a atenção e penso ser válido compartilhá-los.
Feature extraction, que determina quais dados devem ser usados no modelo. Definir as características (features) que são importantes em determinado aprendizado ajuda a eliminar uma quantidade imensa de variáveis. Quando se está lidando com dados brutos, saber o que “cortar” poupa tempo e torna a busca pela informação mais assertiva.
Regularization, que determina a forma como os dados são ponderadas dentro do modelo. Regularização é determinar a relevância de cada dado e a sua prioridade. É a “atitude” que transforma um dado em informação, o que dá o contexto. Em seu aprendizado, use este conceito para definir o seu plano de estudo, ordenando o que focará primeiro e tentando visualizar possíveis conexões interdisciplinares.
Cross-validation, que testa a precisão do modelo. A validação cruzada é uma técnica usada para avaliar a capacidade de generalização de um modelo, usando um conjunto de dados. O objetivo do seu uso em “machine learning” (e em análise humana) é a predição. Adaptando para o nosso aprendizado, use o conceito de validação cruzada para determinar o seu processo de avaliação (afinal, como saber se está realmente aprendendo?).
“Machine learning” é um tema fascinante e pode ajudar muito na criação de processos educacionais aplicáveis a nós mesmos, humanos. Para quem quiser se iniciar, sugiro começar pelos chamados “No Free Lunch Theorems” – matemáticos também têm senso de humor – que mostram que todos os algoritmos que buscam um extremo de uma função, agem exatamente da mesma maneira. Alguma semelhança com o nosso comportamento?
Salvar informações antigas nos ajuda a aprender novas informações
julho 2, 2015 § Deixe um comentário
O simples ato de “salvar” uma informação (como por exemplo, um arquivo no computador), nos ajuda a preparar a memória para receber uma nova informação. De acordo com uma pesquisa feita pela Universidade da Califórnia em Santa Cruz (UCSC), o ato de “salvar” ou “guardar” uma informação nos ajuda a “liberar” recursos cognitivos que podem ser usados para lembrar uma nova.
A ideia por trás do conceito é muito simples: o ato de “salvar” atua como uma forma de descarregamento (offloading é o termo original). Ao garantir que determinadas informações estarão digitalmente acessíveis, podemos realocar recursos cognitivos que de outra forma seriam usados para “manter” essa informação no nosso cérebro e nos concentrarmos em lembrar novas (ou mais importantes) informações. É claro que é extremamente necessário criar antes um processo de “recuperação” desses arquivos. Não adianta nada guardar a informação e “esquecer-se” de onde ela se encontra, do que se trata ou como se pode acessá-la.
Segundo o pesquisador Benjamin Storm, temos a tendência de considerar o esquecimento uma “falha” de memória, mas a pesquisa sugere que ele, na verdade, desempenha um papel essencial no apoio ao funcionamento adaptativo de memória e cognição.
Com o desenvolvimento tecnológico possibilitando cada vez mais “espaço” em HDs de computadores, smartphones e outros equipamentos, considerá-los extensões da nossa memória pode nos ajudar a minimizar as “falhas” de memória e transformá-las em uma vantagem, estimulando nossa habilidade em pensar novas ideias ou encontrar outras alternativas para solucionar problemas (o nome disto, não se esqueçam, é inovação).
Estas pesquisas também apontam tendências que podem ser usadas em planejamentos instrucionais, como por exemplo o mobile learning – aprendizado via aparelhos móveis como smartphones e tablets – que utiliza aplicativos educacionais para aumentar o aprendizado, possibilitar uma entrega flexível de conteúdo ou apoiar um aprendizado formal.