Mundo acadêmico e corporativo
julho 30, 2015 § 2 Comentários
Esta semana tive a oportunidade de participar de um workshop no instituto de ciências políticas da UERJ. Como de costume, as discussões e debates do evento foram de alto nível, mas (também como de costume) o que aconteceu fora da “sala”, nas conversas do cafezinho, almoço e confraternizações me chamaram tanto a atenção quanto o evento em si.
Como um proveniente do mundo corporativo, fui solicitado por alguns dos participantes a compartilhar minhas impressões a respeito do mundo acadêmico e seu impacto na comunidade dos negócios. Sendo o mais diplomático possível, disse identificar uma falta de interesse mútuo entre a academia e os negócios no Brasil. Tirando algumas iniciativas em relação à suporte em consultoria e ações como incubadoras de empresas, não via uma parceria muito abrangente.
O “papo” evoluiu para um “exercício” de propostas destinadas a estimular um diálogo entre dois mundos que não conversam tanto quanto poderiam. Duas delas me pareceram bem razoáveis por serem, na minha opinião, implementáveis em curto prazo.
Parceria em pesquisa
São formadas quando empresa e universidade concordam em colaborar em um determinado projeto de pesquisa. É muito comum em áreas como a farmacologia. Geralmente são conduzidas por pesquisadores mais graduados de instituições acadêmicas e financiadas por empresas, que viram sócias da propriedade intelectual desenvolvida. Propus fazer algo semelhante, mas envolvendo estudantes não tão graduados, que poderiam ter a oportunidade de realizar pesquisas para uma empresa via academia. Meu argumento girou em torno de um ponto: ao demonstrar suas habilidades aplicadas em um negócio, um estudante aumenta a sua “empregabilidade”. Não é um estágio, a pessoa atua pela universidade, mas em contato direto com uma empresa.
Parcerias de formação
É a criação (ou direcionamento) de cursos baseados em necessidades específicas das empresas. Meu exemplo se baseou na experiência de parceria entre empresas de TI e instituições acadêmicas que oferecem o nanodegree. O benefício deste tipo de programa para os estudantes é uma formação focada na implementação prática do conhecimento (além da possibilidade de contratação) e, para as empresas, ter indivíduos especialmente formados. Como potenciais desafios foram levantados dois pontos: (1) uma formação que só pode ser aplicada ao negócio específico e (2) a empresa exigir uma cláusula de “não concorrência” para os estudantes. Pontos que, ao meu ver, são passíveis de negociação entre as partes e não incapacitam a iniciativa.
Fui muito bem recebido, conheci pessoas interessantes nessa experiência e tive a oportunidade de trocar ideias com elas. Fiquei muito satisfeito também em conhecer iniciativas da academia brasileira para facilitar a geração de propriedade intelectual e o esforço que acadêmicos brasileiros e estrangeiros, como os professores alemães Wolfgang Merkel, que se juntará ano que vem à equipe da UERJ e a professora Brigitte Weiffen, que já faz parte do corpo docente da USP, fazem neste sentido. São duas mentes inquietas que conseguimos trazer ao nosso convívio. O país certamente se beneficiará disto no futuro.
Outros pontos de conexão entre o acadêmico e corporativo são as empresas- júnior e encubadoras de empresa. Fiz parte de uma empresa júnior de Design na minha graduação e era algo interessante. Além de dar experiência real aos estudantes também servia para difundir o design entre pequenas empresas, nosso público-alvo.
Um dos problemas que ainda temos para estreitar essa relação é o baixo incentivo ao empreendedorismo dentro e fora universidade. Um problema que vejo especialmente nas universidades privadas é que o foco deles é produzir mão de obra e não desenvolver pesquisa, que indiretamente melhoraria a qualidade dessa mesma mão de obra. Assim esse vínculo fica ainda mais fraco. Se as privadas se aventurassem mais na pesquisa poderíamos ter algo mais voltado para o mercado e com mais agilidade que as universidades públicas podem fazer.
Boa proposta Renato. Como boa parte das vagas universitárias são oferecidas por instituições privadas, tê-las ao lado da geração de conhecimento e de propriedade intelectual certamente reforçaria a importância disto para a grande maioria da nossa sociedade. Poderíamos ficar menos dependentes do consumo para sustentar a economia e mais da geração de negócios.