Como integrar tecnologia à educação?
agosto 11, 2015 § 3 Comentários
Esta é uma pergunta que tenho ouvido muito em conversas e debates sobre o tema que tenho participado. Alguns acreditam que a tecnologia possa ter um papel mais importante, outros nem tanto, mas a maioria concorda que vale a pena olhar com um pouco mais de atenção o assunto.
O que respondo com frequência é o que costumo reforçar quando sou questionado a respeito da implementação de algum novo modelo educacional, como por exemplo aprendizado baseado em projetos (project-based learning) ou classe de aula invertida (flipped classroom): modelos educacionais são propostos como opções e não tanto como alternativas. Não se deve basear um projeto educacional (ou um sistema educacional) em apenas um modelo, eles funcionam melhor em associação. Aprendizado baseado em projetos pode e deve ser usado em conjunto com o modelo tradicional (ou construtivista, aristotélico, etc). O mesmo ocorre com a tecnologia.
Alguns exemplos do uso de tablets em aulas mostram que o equipamento funciona melhor como ferramenta de trabalho. O caso da escola suíça Zurich International School, que distribuiu Ipads aos seus alunos mostra que o importante não é o conteúdo que os aprendizes colocam no tablet e sim o que fazem com o equipamento. É usado como filmadora, gravador e “caderno de anotação” multimídia.
Em uma escola do subúrbio da cidade de Washington, a Buck Lodge Middle School, os estudantes usam tablets para gravar vídeos, criar apresentações e usar aplicativos educacionais como parte de suas atividades, com bons resultados. As escolas da região que utilizam a ferramenta tiveram um rendimento 175% melhor em matemática do as que não utilizam e um aumento de 35% no número de estudantes que atingiram o nível avançado de leitura.
Para entender como um tablet pode auxiliar um ambiente educacional, um pesquisador da Universidade de Adelaide na Austrália, Allan Carrington, desenvolveu a “Roda (i)Padgógica” (perceberam o trocadilho? Incluí o “i” para facilitar), utilizando a Taxonomia de Bloom, o modelo SAMR (já publiquei um post sobre ele) e uma lista de aplicativos educacionais.
O ponto principal da Roda (a imagem abaixo) é a definição de critérios para os aplicativos.
Uns funcionam melhor para estimular o entendimento a respeito de algo, outros para a lembrança, um outro grupo para aplicar o que foi aprendido, um quarto para estimular a análise, outro para a avaliação e um último para a criação de algo utilizando o conhecimento aprendido. Definir estes critérios e associar os aplicativos apropriados é essencial para que o tablet realmente possa cumprir o seu papel de ferramenta. Não adianta oferecê-lo apenas como repositório de apostila ou como ferramenta livre. Acabará sendo usado da forma como a maioria está acostumada a utilizá-lo, como entretenimento. Por enquanto a “Roda (i)Padgógica” está disponível apenas em inglês. Pretendo trabalhar uma versão dela em nosso idioma assim que tiver disponibilidade para tal. De qualquer forma, disponibilizo o link para quem quiser acessar ao pdf original com as indicações dos critérios e aplicativos associados até o momento.
É inevitável que a tecnologia assuma cada vez mais um papel, ouso dizer, predominante no dia a dia de uma sociedade realmente integrada ao século XXI. É inevitável porque facilita a vida de quem a utiliza. Brigar contra inovações como Uber, por exemplo, é o mesmo que combater monstros imaginários na forma de moinhos como fazia o Don Quixote na obra mágica de Cervantes. Lembro da minha mãe dizendo há uns 30 anos que todos da família tínhamos que aprender a “mexer no computador” para não sermos “analfabetos digitais”. É claro que usar ou não a tecnologia em um ambiente educacional não é uma decisão com resultados tão dramáticos quanto às palavras da minha mãe, mas certamente quem tiver a oportunidade irá se beneficiar bem mais do que quem não tiver.
Republicou isso em REBLOGADOR.
Muito bom o post. Parabéns! Concordo com você, a tecnologia tem que saber como é quando utiliza-la, senão vira apenas objeto de entretenimento. Show.
Obrigado Julinei. Grande abraco!