Divergir para convergir

novembro 3, 2015 § 1 comentário

No seu nível mais básico, novas ideias têm a ver com novas conexões. Não sei se é verdade, mas é atribuída a Steve Jobs uma frase que diz mais ou menos o seguinte: “criatividade é apenas conectar coisas”. Se foi ele mesmo (ou algum anônimo), a verdade é que a frase tem um fundo de verdade, pelo menos quanto à forma como o cérebro “cria” novos conhecimentos. Quando aprendemos algo novo, nossos neurônios se conectam entre si, formando “redes” de compreensão. Pode-se considerar que a diferença entre um cérebro “criativo” e um cérebro médio é a quantidade e a força das conexões neurais e a habilidade em criá-las. Este mesmo processo (conexão neural) também está relacionado ao processo natural de formação do que chamamos de “inteligência”. Será que inteligência e criatividade é a mesma coisa – criação de conexão (como na frase citada no início do texto)?

Uma pesquisa feita pelo California Institute of Technology (também conhecido como Caltech), mostrou que a inteligência é algo que se encontra por todo o cérebro. Os pesquisadores descobriram que, ao invés de estar residente em um único local, a inteligência geral é determinada por uma rede de regiões em ambos os lados do cérebro. Já a criatividade, conforme mostrou uma pesquisa feita em 1921 pelo psicólogo Lewis Terman, nem sempre anda de mãos dadas com a inteligência. No estudo feito há 94 anos, Terman descobriu que após certo nível, a inteligência não tem muito efeito sobre a criatividade. Este estudo e subsequentes deram origem à chamada “teoria da soleira” (no original, “threshold theory”).

Por que essa história é importante? Porque ela demonstra que criatividade está ligada à forma de pensar e não ao QI (essa introdução toda foi para podermos chegar a este ponto). É muito popular hoje em dia as ideias do Joy Paul Guilford a respeito do pensamento convergente e divergente. Também é muito popular vê-los como opostos. O primeiro estaria ligado à capacidade de se chegar a uma única e bem estabelecida resposta a determinado problema. O pensamento convergente enfatiza a velocidade, a precisão e a lógica e centra-se no reconhecimento do familiar, nas técnicas de reaplicação e no acumulo de informações.

Em contraste, o pensamento divergente normalmente ocorre de maneira espontânea, com fluxo livre, onde muitas ideias são geradas e avaliadas. Várias soluções possíveis são exploradas em um curto espaço de tempo e conexões inesperadas são desenhadas.

Testes de múltipla-escolha são exemplos clássicos da utilização prática do pensamento convergente (testes de QI também) e o método de brainstorming é o exemplo clássico da utilização do pensamento divergente.

Na maioria das vezes, os dois tipos de pensamento são “vendidos” como não conciliáveis. Como opções a serem feitas: ou se é lógico ou se é criativo. A verdade é que para ser criativo, é preciso ser lógico também. Criatividade envolve um processo cíclico de geração de ideias associado a um trabalho sistemático que ajude a selecionar as que realmente têm possibilidade de “frutificar”. Criatividade deveria ser vista como 2 estágios, o de geração – que envolve o pensamento divergente – e o de exploração – que envolve o pensamento convergente (para mais detalhes, sugiro o artigo do cientista Scott Barry Kaufman, publicado na revista “Psychology Today”).

Acredito que a criatividade está ligada à associação e essa associação é facilitada pela diversificação de informações e conhecimentos que se tem. Ser curioso intelectualmente é um bom jeito para estimular a sua criatividade. É aquela história, se você lê (ou faz) o mesmo que todo mundo, vai pensar do mesmo jeito que todo mundo.

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