Competências para o século XXI – parte 3
agosto 20, 2015 § Deixe um comentário
Estimular competências valorizadas (ou valorizáveis) neste século em um ambiente formal de aprendizagem pode ser uma tarefa (bem) desafiadora. Isto porque para que elas “aflorem” há um elemento essencial nessa “equação”: o aprendiz. Ou melhor, a motivação do aprendiz.
Motivação é um termo “malandro”, ao mesmo tempo em que explica muito resultado positivo, também age para tornar nebuloso resultados negativos. Esta complexidade se deve ao fato de que tanto elementos externos quanto internos ao indivíduo agem combinados para influenciar este “estado de espírito”. Soma-se a isto uma característica fundamental para que a motivação se mantenha consistente ao longo do tempo, a resiliência. Insistir em algo é fundamental para alcançar resultados positivos em termo de aprendizado. Não é todo o dia que se está verdadeiramente disposto a aprender ou a ensinar, portanto continuar seguindo nesses “dias nublados” é tão importante quanto nos de “sol brilhante”.
Um dos pontos comuns das dicas a seguir para se construir um ambiente formal de aprendizagem que estimule as competências abordadas anteriormente é a crença de que o conhecimento é valioso e como tal, importante. Note que uso o termo “conhecimento” e não “educação”. Associar educação ao desenvolvimento de um aprendizado é uma armadilha que deve ser evitada. Primeiro porque educação é um investimento de longo prazo, que está dissociado de “causa e efeito”. Segundo, um ambiente formal de educação não gera necessariamente aprendizado. Terceiro, a base de qualquer sistema educacional é o conhecimento, ele sendo valorizado transcende o próprio sistema e se torna parte integrante do indivíduo (e por tabela, da sociedade). Sem mais delongas, vejamos como podemos ajudar a estimulá-las:
Crie cenários que testem a transferência das habilidades e não apenas as habilidades em si. É preciso que o aprendiz desenvolva a capacidade de aplicar as habilidades, conhecimentos, atitudes ou estratégias vistas em um contexto em outro. É desta maneira que se avalia um aprendizado, estimulando que pensem e analisem como seu conhecimento se aplica em uma situação ou realidade diferente da que foi utilizada para repassá-lo.
Tire um tempo durante o repasse para estimular uma visão abrangente. Os aprendizes devem compreender as relações entre as variáveis e como podem aplicar este entendimento em contextos diferentes. Ao entenderem como um determinado tópico se encaixa em um sentido mais amplo, a relevância do aprendizado de um determinado conhecimento se torna mais claro – e mais motivador.
Trate a tecnologia como parte natural do aprendizado. Encaremos os fatos, dificilmente hoje um aprendiz – de qualquer idade – irá conceber sua vida sem o envolvimento da tecnologia. Ela está tão presente em vários aspectos da vida que realmente deveríamos parar de pensar em como integrar a tecnologia no aprendizado e fazermos o inverso: pensar em como integrar o aprendizado na tecnologia. Encará-la como parte natural da história é um bom começo.
Torne suas lições (ou aulas) interdisciplinares. Sei que algumas palavras são tão repetidas que acabam se tornando “da moda”. Muitas vezes, por conta dessa repetição, paramos de dar a devida atenção a elas. Não se pode deixar que este seja o caso aqui, interdisciplinaridade é um “modo de vida”. O aprendiz precisa ter consciência do porque cada disciplina é importante, como elas se integram, como um novo conhecimento é criado e como é difundido. Este é o modo de se “ensinar” a metacognição, ou como é conhecida no popular, “aprender a aprender”.
Aborde diretamente o que for mal-entendido ou o que tem possibilidade de má compreensão. Alguns assuntos são densos ou ambíguos mesmo. É natural que as pessoas tenham alguns mal-entendidos a respeito de como as coisas ou o mundo funciona. Se não tiverem a oportunidade de visualizar explicações alternativas, esses entendimentos tendem a se solidificar.
Promova trabalho em equipe. Esta é uma habilidade que é ao mesmo tempo processo e resultado. Há uma frase atribuída a Machado de Assis que diz “quem troca pães, fica com um, quem troca ideias, fica com as duas”. Colaboração é estimulada muito pelo exemplo, por isso promover um ambiente colaborativo é fundamental para que o trabalho em equipe apareça naturalmente. Some-se a isto, a necessidade de haver uma “cultura da aplicação”. Isto quer dizer que é preciso estimular os aprendizes a aplicarem o que aprenderam em coisas tangíveis. Um bom modo de se fazer isto é por meio de projetos. Utilize esta metodologia de aprendizagem como parte do seu planejamento instrucional e permita que os aprendizes experimentem diferentes papéis ao trabalharem um projeto em grupo. Nada de “distribuir camisas”, estimule que ora sejam “gerentes”, ora “organizadores”, ora “artistas” e assim por diante.
Por fim, não se esqueça de para que se possa “lidar” com a enorme quantidade de informação disponível, o modo como se acessa e se traduz essas informações é fundamental. Estimule que busquem e comparem as fontes de um determinado assunto. Assim se estimula a análise crítica, fundamental para sairmos da “armadilha” do dogma e das “respostas prontas”.
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