O que a matemática no PISA me ensinou
junho 16, 2015 § 5 Comentários
Historicamente, as aulas de matemática valorizam um único tipo de aluno: aquele que consegue memorizar bem e calcular rápido. No entanto, dados dos 13 milhões de alunos que fizeram os testes PISA, mostraram que os estudantes que alcançaram as notas mais baixas em todo o mundo, foram exatamente aqueles que utilizaram a estratégia de memorização no seu aprendizado. Esta estratégia é aquela que estimula a pensar a matemática como um conjunto de métodos de memorização – alguém se recorda dos exercícios para decorar a tabuada? Em contrapartida, os alunos com maior rendimento foram aqueles que abordavam a matemática como um conjunto conectado de grandes ideias. Estes dados podem ser verificados pelos resultados do PISA de 2012, disponibilizados pela OECD.
Esta diferença de performance se deu porque a matemática, ao contrário do que nosso sistema educacional sugere, é um assunto amplo e multidimensional. A verdadeira matemática deve estimular investigação, comunicação, conexões e ideias visuais. Ela envolve Conexão de Conhecimento e não apenas repasse.
O Brasil, em minha opinião, não precisa de alunos que possam calcular rapidamente. Precisamos sim, de aprendizes que possam fazer boas perguntas, mapear caminhos, encontrar soluções para questões complexas, configurar modelos e se comunicar em diferentes formas. Todas essas habilidades deveriam ser encorajadas pelo nosso sistema educacional e nossa posição no teste – 38º de 44 países – deveria gerar não apenas indignação, mas um amplo debate (não bate-boca ou concurso de gritos – como tenho visto por aí) para pensarmos os objetivos que queremos para nossa sociedade e o que precisamos fazer para alcançá-los. A construção da Base Nacional Comum (BNC) pelo MEC – que é a definição do que é essencial ser aprendido – é um primeiro passo para isto, mas só vai realmente contribuir para o desenvolvimento do país se for sustentada por modelos educacionais que privilegiem a aplicação prática do que é aprendido.
Acho que o problema que você viu no ensino de matemática é generalizado em todas as matérias de nosso sistema de ensino. E seu impacto pode ser visto nas discussões de que vemos nas redes sociais. Na verdade são essencialmente brigas de torcida em que muda apenas o tópico.
O que existe é gente que guarda informação, mas não analisa. Pessoas que pensam que ciência é um título quando, na verdade, é um método. Sobra senso comum quando o que precisamos é senso crítico. Encontrei uma ótima crítica sobre isso em https://afalaire.wordpress.com/2015/03/27/e-o-senso-comum-que-esta-embalando-os-protestos-no-brasil/
E concordo que precisamos mudar nosso modelo de ensino para conseguir isso. Precisamos que um modelo capaz de mudar essa atitude em relação ao conhecimento. Algo bem mais difícil que ensinar apenas habilidades ou conhecimentos. Sendo que, para a maioria, nem isso nosso sistema anda fazendo direito
Ótimo link Renato, obrigado por compartilhar.
Não tem de quê. No mais boa sorte com seu escritório.
Também sou um interessado em abordagens educacionais inovadoras e acredito que elas são essenciais para definir o país que desejamos.
Meu foco de interesse é na produção de material didático em geral com um interesse particular por jogos (que prestem) aplicados à educação.
Que bom. É um interesse que demonstra a importância cada vez maior que o design instrucional vai ter em nossa sociedade. Já que o seu interesse principal são jogos, dá uma pesquisada no tema edutainment (ou playfull learning, como o meu “guru” Mitchel Resnick, prefere) que é exatamente a junção de atividades de entretenimento com aprendizado. Outras boas fontes são os sites https://www.creativelive.com/ e https://www.edx.org/how-it-works que apesar de focarem em cursos online, utilizam algumas ferramentas educacionais como música, game-like labs e 3D. Abração!
Legal, eu conheço o Resnick. A idéia do playful learning e do Hard Fun do Papert são algumas das minhas referências preferidas.
Gosto muito daquele artigo em que ele detona o edutainment, até o citei em alguns trabalhos.
um abraço